Papel da comunidade internacional na mediação da crise política

Desde a assinatura do acordo de Conacry, em setembro de 2016, a situação política na Guiné-Bissau entrou num estado “de impasse” em que os atores políticos não se coabitam, não dialogam e trocam acusações, o que na opinião de muitos guineenses e da comunidade internacional, é preocupante esta situação que não tem fim previsto.

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18 abr 2017

Papel da comunidade internacional na mediação da crise política

A comunidade internacional continua a fazer esforços para o diálogo como forma de resolver a crise guineense negociando com as partes envolvidas no cumprimento do acordo de Conacry. E para o cumprimento deste acordo, esteve no país de 2 a 6 de abril, a secretária-executiva da CPLP, Maria do Carmo Silveira, com o objectivo de auscultar diferentes atores nacionais e internacionais sobre a saída para crise política no país.

 

“Ouvi os diferentes intervenientes e o que constatei é que cada um tem a sua perspectiva do que está a acontecer e creio que há necessidade de aproximar as posições e também encontrei a disponibilidade de todos no sentido de dialogar” salientou a secretária-executiva da CPLP. 

 

Os guineenses vêem as delegações ir e vir, e perguntam-se como se faz afinal uma mediação? Chukwuemeka Benedicteze, especialista em mediação que aconselha o Representante Especial do Secretário-Geral na Guiné-Bissau (RESG) esclarece que “a mediação é um processo informal, em que uma terceira parte interlocutora com o consentimento das partes na disputa, traz as partes em conjunto para tentar comunicar com eles e chegar a uma solução para o seu problema. Neste contexto, a mediação funciona melhor quando as partes na disputa estão dispostas a resolver o problema e quando têm boa-fé na resolução do conflito” informou o consultor.

 

E é o que se está a verificar na Guiné-Bissau, a comunidade internacional tem proporcionado encontros com os atores da crise a procura de uma solução. Por ser muito difícil de resolver os problemas sozinhos, os bissau-guineenses, através do seu governo pediram ajuda à comunidade internacional, em particular às Nações Unidas que estabeleceram assim uma missão política, o Escriório Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS). 

 

Segundo o mandato que lhe foi atribuído pelo Conselho de Segurança, o UNIOGBIS está a trabalhar com a Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), como organização regional, para ajudar a resolver a crise política que vigora no país. A força de manutenção da paz presente no país – ECOMIB – está também sobre o comando da CEDEAO. O UNIOGBIS trabalha por isso em coordenação com a CEDEAO. 

 

Os acordos de Conacry são fruto desse trabalho. No entanto, o país continua a ter dificuldades em implementá-lo – o bloqueio continua, o orçamento de estado não foi aprovado, há protestos e acusações mútuas pelos actores políticos.

Para a maioria dos guineenses é importante que continuem os esforços de diálogo e mediação internacional. Há no entanto, activistas mais pessimistas. Na opinião de Luis Vaz Martins, activosta de direitos humanos, as mediações internacionais à semelhança do que aconteceu no passado tem todas as condições para falhar, devido às várias experiências de crise registadas no país. Este activista apontou duas saídas desta crise:

“A primeira solução, é que as pessoas têm que sair à rua de forma clara para demonstrar a sua oposição sobre o que está a acontecer e a segunda solução, o povo tem que tomar o poder”, disse Luís Martins.

 

Já o presidente do Instituto Nacional de Juventude, Filinto Omar Martins Salla, sugere que “os jovens podiam constituir um potencial mediador desta crise político-institucional, desde que mantenham uma posição equidistante entre  as partes disavindas” realçou o dirigente juvenil.