DMF: Florestas da Guiné-Bissau ainda em risco apesar de bom sistema de protecção

O tema deste ano do Dia mundial da Floresta - “O papel central das florestas no abastecimento energético das sociedades actuais e futuras” -não podia ser mais adequado para alertar que apesar de ter boas políticas de protecção, as florestas da Guiné-Bissau ainda continuam a correr riscos, nomeadamente, por causa da produção de energia.

5 abr 2017

DMF: Florestas da Guiné-Bissau ainda em risco apesar de bom sistema de protecção

A Guiné-Bissau dispõe de um rico património natural, com valores de biodiversidade de relevância mundial, que projecta o país na cena internacional, atraindo apoios para a conservação e para o desenvolvimento sustentável, com um enorme potencial para se transformar numa indústria ecoturística.

O sul do país é constituído essencialmente por um maciço florestal com algumas das manchas florestais melhor preservadas do país, albergando provavelmente a área de floresta densa mais setentrional na África Ocidental.

A pressão humana em busca de espaços para a prática da agricultura, de madeira para a construção e fins comerciais, de material lenhoso (lenha, carvão) para a produção de energia, etc., levaram à degradação dos maciços florestais da zona.

Estudos do Instituto dos recursos mundiais (WRI), um centro de pesquisas com sede em Washington – revelam que a Guiné-Bissau aparece entre os países que tiveram desflorestamento mais rápido.

Em 2015, devido ao aumento de cortes de árvores verificado depois do golpe de estado de 12 de Abril de 2012, o governo da Guiné-Bissau decretou uma moratória de 5 anos para o corte de árvores em todo o país, e promoveu campanhas de sensibilização e informação sobre “a gravidade da situação prevalecente nas florestas” do país e dos esforços de conservação em curso.

O estado da Guiné-Bissau criou em 2004 do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP), com o objectivo de zelar pela boa gestão das áreas protegidas e pela conservação da biodiversidade. Foram criadas parques no sul do país, nas regiões Tombali Mato de Cantanhez., e em Quinara Parque Natural de Lagos de Cufada.

O Parque Natural de Lagoas de Cufada foi criado através do decreto nº 13/2000, e goza dum estatuto de Sítio RAMSAR, Zona Húmida de importância Mundial. Situado a cerca de 22 km de Cidade de Buba em direcção a Fulacunda, tem a maior superfície de água doce da Guine Bissau na margem Sul do Rio Corubal com uma extensão de 890.km2 ou seja 89.000 hectares.

Recentemente, o Governo anunciou a intenção de construir uma central termoeléctrica em pleno parque natural de Cufada, o que fez estalar a polémica e a tensão entre aqueles que defendem a construção da central e os outros que pensam que isto constitui um atentado ao património natural do país.

O coordenador do departamento de fiscalização das áreas protegidas, Joao Sousa Cordeiro, lembra que “a lagoa de Cufada tem uma grande importância ambiental tanto a nível nacional, como a nível internacional, ela é um reservatório da água doce que abastece todos os lenções freáticos e é um local que serve de zona de refúgio dos pássaros que saem da Europa, mas as ameaças que põem em risco o parque persistem, e uma dela é a desmatação, ocupação de espaço para habitação e quintas de caju, entre outros”.

No que diz respeito à situação da floresta em geral, o delegado adjunto de floresta a nível de Quinara, Manuel Gomes, “considerou actual situação da floresta de estável, visto que houve uma diminuição considerável de abates de árvores depois da moratória de cinco anos decretado pelo governo”.

O encarregado do programa do Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas, Justino Biai, disse que “as florestas desempenham um importante papel no equilíbrio ecológico. A construção da central eléctrica em Buba, dentro do limite do parque sem a priori fazer um estudo de impacto ambiental, e mais ninguém tomou em consideração lei-quadro de ambiente a construção do parque foi feita a revelia”.

Este especialista garantiu ainda que o IBAP não se opõe à construção da central eléctrica de Buba, porque estão cientes que não se pode galvanizar o desenvolvimento sem energia, mas o problema é a localização da mesma.

O representante adjunto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Gabriel Dava, lembra que “todo o desenvolvimento deste país tem que ser feito de maneira sustentável ou seja, a utilização racional dos recursos naturais. Então, toda a nossa abordagem tem que ser no sentido de pensarmos na sustentabilidade, como desenvolver o país ou o mundo em geral, sem afectar a natureza, tendo o cuidado de preservar os recursos naturais que são esgotáveis”.

Foi a pensar na necessidade de sensibilizar a população sobre a importância das florestas para a manutenção da vida na Terra e a necessidade de preservá-las, em 1971, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sugeriu a criação do “Dia Mundial da Floresta”.