Os guineenses querem firmeza da comunidade internacional para acabar com a crise política

Desde o início da crise que se vive no país há cerca de dois anos, muitos esforços foram feitos pela Comunidade internacional, apelando as partes à promoção de um diálogo sincero e inclusivo, mediando e promovendo reuniões quer a nível interno como externo com o objectivo de ser encontrada uma solução duradoura para a crise.

13 jun 2017

Os guineenses querem firmeza da comunidade internacional para acabar com a crise política

Iniciativas idênticas têm sido levadas a cabo organizações da sociedade civil, femininas, religiosas, juvenis, todas elas empenhadas no esforço para acabar com a crise político-institucional ainda persistente.

Na última reunião de chefes de Estado da CEDEAO, a 4 de junho em Monróvia, capital da Libéria, os estados membros expressaram sua profunda preocupação em relação a persistência do impasse político e institucional no país, apesar da assinatura do acordo de Conacri, a 14 de outubro de 2016, e tomaram nota da disponibilidade de todas as partes de conversarem directamente, a fim de garantir a implementação desse Acordo. Eles exortaram o Presidente guineense, José Mário Vaz a cumprir as disposições do Acordo de Conacri.

A este respeito, a Organização regional prolongou por mais três meses, a presença do seu contingente militar no país, a ECOMIB, para permitir a plena implementação do Acordo de Conacri.

As Nações Unidas têm apoiado os esforços de estabilização política e económica da Guiné-Bissau. Nesses esforços, configura o Fundo de Consolidação da Paz, o qual, além de apoiar os processos de mediação, também se tem vindo a destacar-se  no apoio aos projectos sociais prioritários de consolidação da paz.

“Actualmente temos três projectos que estão a funcionar na Guiné-Bissau: registo de recém-nascidos em parceria com a UNICEF, isso é importante porque dá identidade, e as pessoas podem aceder a serviços e porque se não soubermos quantas pessoas estão a nascer, não saberemos quantos escolas serão necessárias construir,” e Janet Murdock, do secretariado do Fundo.

“O segundo projecto é sobre o diálogo, que tem duas vertentes, apoio ao processo de Conacri e apoio a Comissão Organizadora da Conferência Nacional, que está a procurar um mecanismo de reconciliação nacional.”, concluiu Janet Murdock.

Para os cidadãos guineenses o impacto desses esforços nem sempre é visível e claro. E têm opiniões diferentes sobre o que a comunidade internacional deve fazer para acabar com a crise política, mas todos querem que a comunidade internacional seja “mais severa com os políticos.”

“ A única solução para este problema é entregar à Guiné-Bissau nas mãos das Nações Unidas” disse Fatoumata, de São Domingos. Armando, na mesma cidade defende que “a comunidade internacional deve assumir a sua responsabilidade, já que a Guiné-Bissau faz parte dessa organização, as NU devem pôr mãos duras nos políticos guineenses, como fizeram noutros países, porque quem está a sofrer com esta crise, somos nós a população”.

Fernando, em Buba, no sul do país, considera que “a comunidade internacional está a ser morosa em termos de tomada de decisão, porque o está em causa é a democracia, a comunidade internacional não devia deixar essa situação chegar a esse ponto, deviam realizar eleições gerais, essa é a solução certa”  disse.

“Apelo à comunidade internacional para que faça cumprir o Acordo de Conacri, devem ser mais duros e obrigar os políticos para cumprir este acordo” apelou Filomena em Bafatá, Leste da Guiné-Bissau. Carlos,, também em Bafatá, considera que os parceiros não estão articulados nem verdadeiramente empenhados: “podemos dizer que a CEDEAO, as Nações Unidas emitem vários comunicados e resoluções mas reparei que não há um engajamento, parece que cada organização posiciona da sua maneira e isso tem contribuído mais para aumentar a crise, o P5 deve ter um fórum único e uma resolução única e reunir as partes envolvidas, porque o Acordo de Conacri na minha opinião é extemporâneo”.

A presidente do Conselho Nacional da Juventude, Aissatu Forbs Djaló lamenta o facto de a juventude ter sido excluída em todos os processos  de mediação desde o início da crise. “Os jovens estão afectados com a crise e podem mostrar uma outra versão deste problema. As Nações Unidas, a CEDEAO e toda comunidade internacional devem incluir os jovens no processo de mediação porque a juventude tem um papel importante na sensibilização das comunidades e representação da população” afirmou a líder juvenil.

Também, as mulheres, movidas pelo interesse e dever que é seu de participar nos esforços de mediação para o fim da crise, e, como forma de poderem fazer parte nos centros de tomadas de decisão, criaram recentemente uma plataforma que agrupa várias organizações femininas para a consolidação da paz na Guiné-Bissau.

Rui Jorge Semedo, investigador associado ao INEP, disse que para que a crise acabe “é preciso fazer a que os guineenses acreditem nos valores da democracia, com instituições fortes capazes de fazer respeitar as leis.”