Ramos-Horta espera que elites política e militar ganhem consciência que o país enfrenta uma ameaça

5 abr 2013

Ramos-Horta espera que elites política e militar ganhem consciência que o país enfrenta uma ameaça

5 de Abril de 2013 - O representante Especial do Secretário-Geral da ONU no país, teve um encontro sexta-feira , 5, com dois órgãos da imprensa internacional, para lançar um apelo à Guiné Bissau pela ocasião do primeiro ano de mais um golpe de estado que o país viveu em abril de 2012.

No encontro, havido lugar na sede do UNIOGBIS, no Bairro de Penha, em Bissau, José Ramos-Horta lembrou que o 12 abril, obviamente, "não é causa para celebração".

É mais um aniversário de mais um golpe de Estado, disse ele, acrescentando que "independentemente das razões que levaram os militares a realizar mais um golpe", a verdade é que ela só alevou à uma profunda crise económica, social e ao isolamento diplomático do país.

"Por isso, espero que, a completar-se o primeiro aniversário do golpe de 12 de abril e do regime de transição, as elites política e militar deste país façam uma introspecção, um exame de consciência, e ganhem a consciência de que, realmente, a Guiné Bissau enfrenta como nação, uma ameaça existencial, enquanto estado, enquanto uma nação".

Ainda, de acordo com Ramos-Horta, "sem um estado forte, um governo e instituições políticas sólidas e coesas, é extremamente difícil para o país sobreviver aos desafios regionais, as ameaças de crime organizado; nomeadamente, dos cartéis da droga das mais variadas origens e ameaças de outros géneros que estão bem presentes no dia-a-dia de cada família guineense. Ameaças de extrema pobreza e não há maneira de ela terminar".

Por outro lado, enfatizou, devo dizer, como amigo e irmão dos guiineenses, que a comunidade internacional sempre quis e quer ajudar, mas está também cansada e há o perigo real de a própria ONU, UE e outros amigos parceiros tradicionais da Guiné Bissau disserem não.

Por essa razão, prosseguiu, "apelo às elites políticas para chegarem a um acordo sobre o prometido roteiro - o recenseamento e o calendário eleitoral. As eleições podem-se fazer este ano desde que as elites políticas se entendam e absorvam o que eu tenho dito, dado os desafios bem grandes que o país enfrenta, e até eu digo desafios existencialistas, enquanto stado e enquanto nação".

"Que se entendam e formem um governo de grande inclusão o mais rápido possível, para permitir a realização de eleições em clima totalmente pacífico. E, sabendo já que, face aos desafios deste país, não haverá vencedores ou perdedores nas próximas eleições. Isto é, o partido que vier a ser o mais votado, terá o sentido de Estado, terá a consciência da gravidade da situação, terá a consciência de que nenhum partido sozinho, nenhuma elita partidária sozinha, pode resolver os problemas do país", exortou este alto funcionário da ONU.

"Dêem-se as mãos, convidem um terceiro partido para que, entre as melhores pessoas - homens e mulheres - se forme um governo de grande abrangência, um governo forte para a segunda fase de todo o processo. A primeira fase vai agora até as eleições, a segunda, eu chamaria de reorganização, de reconstituição do Estado, para dinamizarmos o apoio internacional a fim de que o país possa, finalmente, recuperar o prestígio que teve nos anos 73, 74, 75, etc. E é possível. Este país é potencialmente rico, tem um povo fabuloso que nunca enveredou no caminho de guerras tribais sangrentas, apesar da sua natureza multi-étnica", apelou.

Questionado, se o encontro esta semana com o primeiro-ministro teve algo a ver com os boatos dos últimos dias, José Ramos-Horta disse que não tinha nada a ver, mas que foi um encontro de rotina que ele-mesmo solicitou para conversar à imagem dos contactos que tem tido com os parceiros e a comunidade internacional a favor de um clima de diálogo e de transparência entre as partes.

Sobre a reacção quase dura das autoridades face aos presumíveis autores dos rumores, o Representante Especial de Ban Ki-Moon na Guiné Bissau referiu "que não havendo uma imprensa e meios de comunicação abundantes e dinâmicos, e onde o governo não dialoga com os mass média com frequência e regularidade, dá espaço para boatos, para rumores. (...) Os boatoos como correram nos últimos três dias são também normais", acentuou.
Em relação a detenção do contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto pelos norte-americanos quarta ou quinta-feira, Horta considera como uma questão da competência dos Estados Unidos dado que a pessoa é acusada de estar envolvido numa rede de traficantes da droga.

"Eu, como amigo da Guiné Bissau, fico triste. Porque, um veterano, um combatente da grande luta do PAIGC de Amílcar Cabral acaba numa prisão norte-americana por tráfico da droga. Espero que isso leve a classe política guineense e os militares a reflectirem como é que se chegou a esta situação", lamentou.