Guineenses consideram urgente a realização da Conferencia Nacional sobre reconciliação

As consequências sociais de episódios e/ou ciclos de conflito violento são sempre desastrosas para qualquer sociedade, por isso, a reconciliação é indispensável.

27 jul 2017

Guineenses consideram urgente a realização da Conferencia Nacional sobre reconciliação

Foi nesta perspectiva que a Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau através do despacho nº 04/2007, de 19 de Julho, instituiu a criação da Comissão Organizadora da Conferência Nacional. O trabalho desta comissão que fez consultas em todo o país sobre um possível mecanismo de reconciliação foi bastante apoiado pelo ex-presidente Malam Bacai Sanha. A sua morte e o golpe de estado de 2012 vieram impedir a realização da conferência nacional.

Em 2013 o parlamento aprovou nova resolução para criar uma nova Comissão Organizadora da Conferência Nacional - "Caminho para a Paz e o Desenvolvimento" (COCN) que retomou os trabalhos da anterior.

Desde então, a COCN já promoveu auscultações nacionais e internacionais, onde se recolheram as opiniões de mais de 3 mil pessoas, e organizou seminários e conferências internacionais, com o objectivo de encontrar um modelo de reconciliação apropriado para o país.

Findas essas auscultações e uma primeira versão do relatório, a comissão preparou um novo calendário de actividades que já foi submetido aos órgãos de soberania do país, como explicou o presidente da Comissão Organizadora da Conferencia Nacional "Caminho para a Paz e o Desenvolvimento", Padre Domingos da Fonseca. De acordo com tal cronograma, a conferência será realizada em maio de 2018, e são os conferencistas que irão decidir que modelo de reconciliação será bom para a Guiné-Bissau, uma vez que existem mecanismos e factores psicossociais que influenciam o como e quando a reconciliação pode contribuir efectivamente para a restauração da ordem social.

Padre Domingos da Fonseca defende ainda que a “conferência deve ter lugar num clima de paz, estabilidade e entendimento, porque fazer a conferência nessa instabilidade que o país esta a viver, qual vai ser o resultado desta conferência? Possivelmente pode vir a ser instrumentalizado pelos actores políticos segundo o interesse de cada partido”.

Os partidos políticos são, no entanto unânimes em considerar o processo urgente.

Segundo delegado do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC) na região de Quinara, sector de Fulacunda, Mamadu Sanhá, “a reconciliação é importante e necessário para o desenvolvimento do país, mas reconciliação sem perdão não existe, por isso é necessário perdão e entendimento para uma verdadeira reconciliação, adianta Sanhá.

Por seu lado o financeiro da direcção regional do Partido da Renovação Social (PRS) na região de Bafatá, Saido Baldé, defende que “a falta de vontade política é a principal razão da morosidade deste processo de reconciliação nacional, porta ela é a única saída que o país tem neste momento para sairmos nesta situação rumo ao desenvolvimento”.

Quanto ao delegado do APU-PDGB na região de Quinara, sector de Buba, Quemo Tchantchalam, “com a realização da conferência é que podemos saber onde é que reside o problema, porque muitas coisas passaram, e hoje outros problemas vieram se juntar aos velhos problemas, então a conferência é um fórum ideal para resolver estes problemas, mas como dizem os mais velhos, antes de perdoar alguém, tens primeiro que saber o que ele te fez”, finalizou este político.

O presidente da Liga Guineenses dos Direitos Humanos, Augusto Mario da Silva, disse que a Liga Guineense dos Direitos Humanos “está com uma espectativa elevada relativamente à realização da conferência nacional, porque este país ao longo da sua história foi marcado por episódios graves de violações de direitos humanos que ficaram impunes, o que tornou a impunidade a imagem de marca do país, que consequentemente gerou sentimento de ódio, de vingança, de retaliação, por causa de casos mal resolvidos no passado, a justiça não foi feita, então é preciso pensar nas formas alternativas de pacificar a sociedade, não é a amnistia que vai pacificar a sociedade, então foi criada esta comissão para servir de um fórum onde os guineenses vão se juntar e conversar para uma verdadeira reconciliação”, acrescenta este activista.

Segundo o coordenador do Instituto Padre António Vieira (IPAV), Edson Incopté, “para que haja uma verdadeira reconciliação nacional é necessário que os guineenses definam o que é para eles a reconciliação, se existe realmente necessidade de uma reconciliação, e o que é que vamos reconciliar?” Só depois de termos uma base bem definida é que podemos ir para uma verdadeira reconciliação, disse Incopté.