Violência e discriminação continuam afectar mulheres da Guiné-Bissau

O dia 25 de novembro é o primeiro dos 16 dias de activismo para a eliminação de violência contra as mulheres. No quadro da comemoração deste ano, sob o tema “Alaranjar o mundo: mobilizar recursos para pôr fim à violência contra as mulheres e meninas”, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon encorajou os líderes globais a colaborarem com a ONU Mulheres e o Fundo das Nações Unidas para por Fim à Violência contra as Mulheres.

4 jan 2017

Violência e discriminação continuam afectar mulheres da Guiné-Bissau

Na Guiné-Bissau, os 16 dias de activismo serão preenchidos com uma campanha de sensibilização para eliminar a violência contra as mulheres; que inclui muitas actividades como djumbais nas comunidades e nas escolas e entre outros.

Um dos marcos desta campanha é a difusão de spots publicitários na televisão nacional e nas rádios, que conta com a participação de várias figuras públicas, como Jovem Binham, João Umpa Mendes, Primeira-Dama Rosa Vaz, activista Fatumata Djau, políticos e líderes religiosos.

A desigualdade de género é um dos factores que mais contribuem para a violência contra as mulheres. Na Guiné-Bissau, todos concordam que agora há maior igualdade de género no entanto ainda há muito a fazer para assegurar verdadeira igualdade e assim prevenir a violência contra as mulheres.

Em 2015 o parlamento guineense aprovou uma lei contra a violência doméstica mas a aplicação da lei ainda está muito aquém do desejado. Bubacar Turé, oficial de género do UNIOGBIS, considera que “é necessário adoptar medidas operacionais para que lei seja implementada no país, ou seja, criar condições para que as institucionais judiciárias estejam munidas de conhecimentos e ferramentas.”

O deputado e porta-voz do Partido da Renovação Social, Baptista Pereira, defende que ainda permanece  a “tendência machista na sociedade guineense, apesar de algumas melhorias verificados nos últimos tempos”.

Esta tendência é visível na divisão das tarefas domésticas no seio da família. Há cada vez mais igualdade em Bissau mas no interior a situação continua difícil para as mulheres.

Chipenda Sá, é funcionário de Ministério de Mulher, Família e Coesão Social, pai de três meninas. Defende que os pais devem desde cedo incutir a ideia de paridade na cabeça das crianças, independentemente do seu sexo. “As crianças devem aprender connosco desde cedo que tanto rapazes como raparigas são iguais para não criar o espírito de inferioridade ” disse Chipenda.

No interior do país, o cenário é diferente. Há homens que pensam que há tarefas exclusivamente só para mulheres, principalmente em São Domingos e Bubaque. “Eu e a minha mulher só tivemos meninas mas temos sobrinhos que vivem connosco. Mas divido as tarefas, as meninas cozinham, apanham água, limpam a casa e lavam roupas. E os rapazes lavram a terra, carregam coisas pesadas” informou Joaquim, cidadão de São Domingos.

A sua esposa Helena disse que o marido ajuda em casa mas muito pouco, mas está optimista que as coisas hão-de mudar com o tempo. “Eu trabalho e o meu marido também mas quando chegamos a casa eu é que faço praticamente tudo. Em vez de me ajudar, ele vai jogar cartas ou deita-se para descansar e só no fim é que aparece para vir comer (desanimo). Na minha casa tento mudar essa atitude mas o meu marido diz que sou chata e ele ajuda, só que poderia ajudar mais. As coisas vão mudar aos poucos (risos)”  disse Helena.

Apesar das mulheres representarem quase 52 por cento da população guineense continuam a sofrer discriminação. A paridade entre meninas e rapazes no sistema de ensino e educação é desigual, onde a taxa de analfabetismo no seio das meninas atinge 76 por cento enquanto os rapazes 48 por cento. A descriminação é uma realidade na família, na escola e na sociedade.

Os novos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, que incluem um objectivo específico para acabar com a violência contra as mulheres e as raparigas, oferecem enormes promessas, mas devem ser adequadamente financiadas para trazer mudanças reais e significativas nas vidas das mulheres e das raparigas.