RESG visita povo na remota Quinará

24 fev 2014

RESG visita povo na remota Quinará

24 de Fevereiro de 2014 - O Representante Especial do Secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau concluiu uma visita de trabalho `a região sul de Quinará aplaudida pelas autoridades locais e milhares de populares nas passagens por Buba, Fulacunda, Gampara, Gamdjabela, Nova Cintra e Empada.

Em Buba, José Ramos-Horta foi recebido pelo governador eng.Mamadu Aliu Camara, que sempre o acompanhou juntamente com os administradores locais, autoridades das Forças Armadas, Guarda Nacional e Polícia de Ordem Pública, sociedade civil, régulos, Homens Grandes (Conselho de Anciãos) e líderes religiosos.

Também integraram a comitiva nomeadamente representantes da União Africana e de agências das Nações Unidas (ONU): Programa Alimentar Mundial (PAM), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS), a par dos das unidades de Estado de Direito e Segurança das Instituições (ROLSI, acrónimo inglês), e Informação Pública do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS).

A visita de dois dias realizada no quadro do mandato do UNIOGBIS, para a restauração da ordem constitucional na Guiné-Bissau, partiu quinta-feira de Buba a caminho do setor de Fulacunda, onde José Ramos-Horta foi acolhido com uma sabadora (traje branco masculino dos muçulmanos), um pano di pente simbolizando as sete secções da região (ficial, têxtil colorido confecionado no tear tradicional em bandas, tipo poncho), um conjunto de calça e camisa brancas, e um certificado honorífico.

O Nobel da Paz declarou: "É uma surpresa, pensei que esta seria apenas mais uma visita à região e nunca esperei encontrar tão calorosas boas-vindas de milhares de pessoas. Fico muito sensibilizado".

E acrescentou: "A ONU está na Guiné-Bissau para trabalhar no sentido de levar o país a sair da transição, com um novo parlamento, governo e Presidente, ajudando o povo a sair da crise, em paz, a caminho de um futuro de desenvolvimento".

Representante Especial do Secretário-geral (RESG) fez uma paragem para visitar uma escola na secção de Gã-Pará, acompanhado pelo representante do PAM para a Guiné-Bissau, Ussama Osman, a quem foi mostrado o armazém de arroz - em quantidade suficiente, ao rácio de 200 gramas por dia/pessoa - para a alimentação do mais de um milhar de alunos.
Em Fulacunda, deu os parabéns à população pelo esforço cívico que culminou na elevada percentagem alcançada no recenseamento eleitoral.

"A ONU e a Comunidade Internacional não querem, nem podem substituir os guineenses e os seus líderes, estão presentes como amigos e parceiros para apoiar as autoridades e ao povo no regresso à ordem constitucional após dois anos de incerteza, com um processo eleitoral que devolverá o país ao concerto das nações,", disse o Nobel da Paz.

E sublinhou: "Os guineenses têm pela frente desafios muito grandes para fazerem face à extrema pobreza, mas devem ter esperança porque o país é rico e confirar em que haverá uma nova fase, com tranquilidade e esperança numa vida melhor".

"Depois das eleições haverá uma conferência, com o novo governo, para mobilizar recursos com os apoios do Banco Africano de Desenvolvimento (ADB, acrónimo inglês), Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), União Europeia (EU), União Africana (UA), ONU e países amigos", disse ainda.

Em Gampara, perante o estrado montado para os dignitários desfilaram danças tradicionais e houve mais oferta de presentes, desta vez abundância de cabazes com legumes e frutos da terra, um radi (pá para o arroz) e até uma ovelha branca.

O cadi (juíz muçulmano) Mamadu Mané, 74 anos, afirmou: "No nosso tempo nunca recebemos uma visita tão importante, a marcar um dia cheio de alegria para a população camponesa desta tabanca isolada, onde só se chega depois de um grande cansaço".

Na localidade de Gamdjabela, o RESG depositou uma coroa de flores no mausoléu de Quemo Mané.

Já em Nova Cintra, José Ramos-Horta foi recebido com danças tradicionais, presentes da horta e um convite do presidente do Conselho Nacional da Juventude local, em nome da população de Bolama e Bijagós, para visitar a região.

O RESG valorizou a sua "viagem de aprendizagem": "O Secretário-geral da ONU enviou-me para servir a causa da paz, da liberdade e da democracia. E, ao longo do ano que passei entre os guineenses, aprendi como numa universidade, porque são um povo bom, pacífico, tolerante e hospitaleiro", realçou.

Com a ordem constitucional restabelecida e o regresso da Guiné-Bissau ao concerto das nações, José Ramos-Horta prometeu ajuda internacional para melhorar a saúde, alimentação, educação, os transportes dos camponeses, a situação dos militares e dos polícias, num processo liderado pelo governo eleito que herdará "uma tesouraria sem dinheiro, num quadro económico muito difícil".

"A subnutrição é muito elevada no país e o futuro depende de crianças saudáveis, sendo obrigação do Estado responder às aspirações do povo sofredor e tantas vezes enganado", assinalou.

O Nobel da Paz visitou na sexta-feira Empada e foi constituído padrinho da tabanca pelo administrador Romualdo Bubacar Candé, a quem se seguiram intervenções dos Homens Grandes (Conselho de Anciãos) da terra e nova entrega de presentes do campo: fruta e legumes.

O RESG ouviu queixas de que, por falta de estrada, se estragam os produtos agrícolas - com destaque para o óleo de palma -, que não poder ser permutados com as outras tabancas, nem escoados para o mercado da capital.

O governador da região pediu apoio para a reconstrução das estradas e prometeu a dinamização de mercados semanais nas tabancas (lumu), visando libertar as populações do isolamento.

A visita terminou com um teste de José Ramos-Horta aos estudantes presentes: queria saber se conheciam quem são o Secretário-geral da ONU, os Presidentes dos Estados Unidos e de Portugal, a capital da França e qual o país mais populoso do planeta, sem esquecer o nome do melhor jogador de futebol do do mundo. Os vencedores foram muito aplaudidos.

Houve ainda tempo para dar um salto a Cubissecu e percorrer as instalações da escola local.
À partida, o RESG prometeu regressar para observar os preparativos das eleições e a participação dos partidos políticos, das autoridades civis e militares, e do povo, na tabanca de Empada desejavelmente já com iluminação pública em postes dotados de painéis solares, um projeto apoiado pelo UNIGBIS.