Partidos Políticos são responsabilizados pela crise mas justificam-se com a pobreza

Bissau, 25 de maio de 2016 (UNIOGBIS/PIU) – Apesar da abertura do país ao sistema pluripartidário em 1991 e realização das primeiras eleições-gerais em 1994, os partidos políticos, cujo número atinge cerca de 20, são frequentemente vistos como os grandes responsáveis pela instabilidade político-institucional que se vem arrastando durante décadas no país, impedindo seu processo de desenvolvimento. Uma das provas evidentes disto é facto de, da data de realização dessas primeiras eleições democráticas até ao presente, nenhum Governo eleito chegou ao fim da legislatura de 4 anos.

30 mai 2016

Partidos Políticos são responsabilizados pela crise mas justificam-se com a pobreza

O cientista político e investigador do INEP, Rui Jorge Semedo, explica que “os problemas políticos que o país atravessa hoje, têm suas causas próximas e imediatas no atual contexto político do PAIGC, mas, muito mais do que isso, é um problema que vem de longe, desde a independência a esta parte, a Guiné-Bissau não tem conseguido trabalhar no sentido de fortalecer suas instituições. “Sempre foram colocados no primeiro plano indivíduos e não instituições”.

“Quando o país encetava o regime de pluralismo político, muitas pessoas pensaram que a criação de várias formações políticas poderia vir como meio para os atores sustentarem suas ambições, seus sonhos e tudo mais. Então, o partido político passou a ser um elemento no mercado político de acesso a cargos públicos. E, cada vez que um partido é entendido como que vai ter a chance de aceder ao poder através de uma eleição, assiste-se a uma corrida desenfreada de pessoas para se associarem ao tal grupo ou candidato”, contou.

Julião Lopes Mané, Oficial da Seção de Assuntos Políticos da UNIOGBIS, lembrou que em qualquer sociedade  “os partidos políticos desempenham o papel central na articulação e agregação de interesses dos cidadãos, através de seus programas eleitorais e de governação, além de servir como elo de ligação entre cidadãos e o Estado, através de deputados eleitos na Assembleia Nacional Popular. Mas, é também outro papel dos partidos políticos, educar os cidadãos sobre a cultura democrática em Estado democrático, bem como incentivar a prática da cultura de tolerância.”

São esses os valores que o partido da Renovação social (PRS), a segunda maior força política do país, professa na sua declaração de princípios. “O PRS constitui-se em Partido Político, procurando, pela confluência de democratas com diversas formações, orientações, unidos num desígnio comum, contribuir para a renovação das políticas na Guiné-Bissau com vista a edificação de uma nova sociedade - justa, livre, digna e solidária. O PRS surgiu como a primeira oposição ao Partido Africano para a Independência da Guine-Bissau e Cabo verde (PAIGC).

Ali Injazi Feito, secretário nacional do PAIGC defende que os partidos políticos devem, “visar o bem-estar da comunidade ou da sociedade, de modo geral, e nunca deve priorizar o interesse pessoal”, referiu. Este político reconheceu que é um pouco complicado fazer a política na Guiné-Bissau, “por haver vários interesses que concorrem com aquele que é o objetivo principal de um partido político. Quer dizer, na busca de interesses pessoais, os riscos que se correm são enormes, como intrigas, difamações, calúnias”, afirmou.

Na sua constituição, a Guiné-Bissau define-se como uma República soberana, democrática, laica e unitária, com soberania nacional assente no povo. Este último, ou seja, o povo, exerce o poder político diretamente através dos órgãos de poder eleitos sob valores democráticos. A formação de partidos políticos é livre nos termos da Constituição e da lei, e os partidos políticos são chamados a concorrer para a organização e expressão da vontade popular e do pluralismo político.