O Peso da Castanha de Caju na Economia da Guiné-Bissau
A título de exemplo, atualmente, 180 mil das 200 mil toneladas produzidas em 2011, foram exportadas, trazendo ao Estado uma renda de 156 milhões de euros. Nos tempos que se fazem, cerca de 85 por cento da população dependem da catanha de cajú, e não é por acaso que plantações desta árvore frutícola estejam a destruir as diversas florestas naturais do país, e a dar lugar à uma monocultura cuja produção e comercialização ainda não satisfazem os produtores rurais, apesar de a Aliança Africana para o Cajú, que agrupa países como a Costa do Marfim, Gana, entre outros, colocar a Guiné-Bissau como o segundo produtor no continente, logo a seguir à Costa do Marfim.
Há poucos anos, um técnico do setor agrícola do país, alertou sobre a necessidade de um “urgente reordenamento das plantações de cajú”, dado que, todos os anos, entre 30 e 80 mil hectares de florestas serem destruídos com a abertura de clareiras e para a explioração de lenha, carvão e madeira. Hoje em dia, a realidade no terreno demonstra que o avanço das florestas de cajú lidera a pressão sobre as florestas naturais.
No Orçamento-Geral do Estado, a castanha de cajú contribui significativamente em 90 por cento. Os relatórios do Fundo Monetário Internacional têm citado sempre este produto, o qual, consoante boa ou má campanha de sua comercialização, faz subir ou descer o PIB da Guiné-Bissau. Será que esse rendimento que a castanha de cajú traz ao país não seria maior, se metade ou todo a produção anual fosse transformada e valorizada localmente antes de qualquer exportação?
À esta questão, o ministro da Economia e Finanças, Dr. Geraldo Martins responde que “o crescimento económico que temos tido desde 2013, 2014 a 2015 tem estado a aumentar. Em 2013 tivemos um crescimento de cerca de 1.5 por cento, depois, em 2014, crescemos 2.7 por cento e em 2015, foi de quase 5 por cento. Para 2016, prevemos uma taxa de crescimento de cerca de 5.8 a 6 por cento”.
Neste crescimento, segundo o ministro, os setores primários, a agricultura, sobretudo, tem tido um papel importante. “A campanha de cajú é a principal fonte de receita dos nossos camponeses e principal produto de exportação da Guiné-Bissau e cerca de 90 por cento das nossas exportações é a castanha de cajú e representa um peso muito importante na formação do nosso PIB”, referiu.
“Em 2015 exportamos cerca de 175 mil toneladas de cajú e este ano, 2016, prevemos exportar 180 mil toneladas, provavelmente um pouco mais dada a boa perspetivas para a campanha deste ano”, destacou Geraldo Martins.
Ainda, de acordo com ele, “ o cajú tem uma grande importância para a economia nacional e, por isso mesmo, o Governo, na sua estratégia de desenvolvimento privilegia o trabalho de toda a cadeia do cajú, desde a sua produção, comercialização e exportação. Se todo a produção anual fosse transformada localmente antes da exportação do produto acabado, com certeza o ganho seria muito mais importante, porque traria valor acrescentado ao produto, dado que, o preço praticado para um quilo da castanha bruta não seria o mesmo se a matéria fosse transformada. O que contribuiria para o crescimento económico e para as receitas dos produtores e transformadores e ajudaria a criar empregos ao nível nacional. Portanto, faz parte da política do Governo a transformação local da castanha de cajú”, assegurou.
Na opinião do sociólogo guineense, Josué Gomes de Almeida, coordenador do Projeto de Reabilitação do Setor Privado e Apoio ao Desenvolvimento Agro-industrial, financiado pelo Banco Mundial, entre os grandes impedimentos à transformação local do cajú está, de um lado, o mais central, a aquisição da matéria prima para a transformação, e no outro lado, está o próprio preço da matéria prima. “No ano em que o mercado estiver bom, em termos do preço ao produtor, todos os transformadores choram, e no ano em que o preço ao produtor for mau, todas as pessoas pensam na transformação”, referiu José Gomes de Almeida, evocando também a necessidade de ser resolvida esta contradição, uma vez que a política do Governo é o combate à pobreza no mundio rural que produz a castanha de cajú.
Nosso outro interveniente na temática é o assistente de programas da FAO, Rui Fonseca. Pare ele, “é importante diversificação da produção agrícola do país” por isso mesmo ele de um programa que a sua agência vai lançar em parceria com a União Europeia, em finais deste mês de abril, no sentido de melhoria da qualidade de produção do caju e, também, para o desenvolvimento da horticultura.
Quase no mesmo diapasão, o também assistente de programa do PAM, o guineense Elber Nosolini, referiu a Perspetivas que a monocultura do caju pode trazer problemas de segurança alimentar à Guiné-Bissau, país que outrora produzia e exportava amendoim, coconote, borracha, algodão, entre outros.
Enfim, resta destacar que Perspetivas esteve na aldeia de Ilondé, a cerca de 10 quilómetros de Bissau, onde se avistou com uma familia de plantadores de cajú, que espera pelo anúncio oficial de um preço indicativo de compra do produto e por um ano de boa colheita.