Maioria de guineenses espera que UNIOGBIS seja mais interventivo e “não fique na sombra”

A maioria dos guineenses do interior da Guiné-Bissau sustenta que o UNIOGBIs tem, até a esta parte, desempenhado o seu papel, mas o contexto está cada vez mais a mudar. Por isso, consideram que o Escritório deveria ter um novo mandato e um caráter mais interventivo e não ficar na sombra.

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24 ago 2017

Maioria de guineenses espera que UNIOGBIS seja mais interventivo e “não fique na sombra”

Esta é a opinião de cidadãos do interior do país, especialmente, de Buba e Bafatá, em relação a  mais um Relatório Semestral do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre a situação na Guiné-Bissau e a implementação do mandato do UNIOGBIS neste país, que o Representante especial do Secretário-Geral na Guiné-Bissau, Modibo Touré, apresenta no próximo dia 24 de agosto, em Nova Iorque, ao Conselho de Segurança.

O Relatório é apresentado no cumprimento da Resolução 2343 (de 2017), do Conselho de Segurança, que prorrogou o mandato do Escritório Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) até 28 de fevereiro de 2018, e solicitou a que o Secretário-Geral passasse a relatar, a cada seis meses, a situação na Guiné-Bissau e os progressos realizados na implementação da resolução e o mandato do UNIOGBIS ao Conselho.

O relatório fornece uma actualização dos principais desenvolvimentos políticos, segurança, direitos humanos, desenvolvimento socioeconómico e humanitário na Guiné-Bissau desde o último apresentado a 7 de fevereiro de 2017.

No mandato do UNIOGBIS, decidido pelo Conselho de Segurança, inclui-se, entre outros, a promoção de um diálogo político nacional inclusivo. Neste âmbito, assistiu-se no país a um gigantesco esforço de promoção do diálogo político, durante o qual o Gabinete tudo fez para levar às partes a mesa de conversação, tendo até contribuído para a assinatura dos Acordos de Bissau e de Conacri, cuja implementação continua a ser solicitada, principalmente, pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Africana (UA), União Europeia (UE), a Comunidade dos Países de Llíngua Portuguesa (CPLP) e a Organização das Nações Unidas (ONU).

Paralelamente a estes esforços, surgiu nos últimos dois meses o Grupo de Mulheres Facilitadoras de Diálogo para o fim da crise política, que parece perdurar a todas as tentativas que aspiram à paz e o desenvolvimento socioeconómico do país.

Fatumata Djaw Baldé, coordenadora interina da iniciativa do Grupo de Mulheres Facilitadoras do diálogo para um fim à crise política vigente na Guiné-Bissau, explicou que o grupo  surgiu de uma iniciativa de mulheres de diferentes organizações da sociedade civil e de partidos políticos para tentarem dar seu modesto contributo para a erradicação da crise. “As nossas ações têm sido facilitadas por UNIOGBIS”, sublinhou.

A activista manifestou a sua satisfação “pela confiança interna e externa depositada no grupo”, que conseguiu aproximar partes do xadrez político nacional que pareciam irredutíveis nas suas posições param a saída da crise política.

“O UNIOGBIS, deveria ter um mandato mais atualizado, um caráter mais interventivo e não ficar na sombra. Isso é o que a maioria dos guineenses quer neste momento. Claro que o país é soberano, tem suas próprias autoridades, tudo bem. Mas nós somos parte do mundo, fazemos parte de um sistema de valores. A democracia é um valor aceite por todos, mas ela tem suas próprias regras. E quando estas são atropeladas, as pessoas que estão cá a velar pela sua aplicação e a ajudar-nos a resolver os nossos problemas, deveriam ter a coragem de dizer: ‘não! há um erro aqui!’. É por essa razão que eu digo que o mandato do UNIOGBIS terá de ser revisto”, acrescentou Seco de Buba.

Braima, cidadão de Quebo  afirmou que o papel das Nações Unidas neste conflito deveria ser mais forte em relação ao que está a ocorrer neste momento no país. Porque, avançou, ”se formos ver, constatamos que mais de 80 por cento dos que chamam líderes políticos estão direta ou indiretamente envolvidos neste conflito.” 

“No meu ponto de vista, as Nações Unidas deveriam fazer a que os guineenses, principalmente os líderes políticos, cumpram com todos os padrões internacionais de cumprimento das regras democráticas para que o país possa finalmente andar. Isso passaria pela responsabilização dos atos e ações públicos e a restauração da ordem democrática”, observou.

“Nós achamos que as Nações Unidas, como uma família de nações de que a Guiné-Bissau faz parte, não deveria ficar parada por vários anos a ver a situação em que o país se encontra.  Elas têm que pôr um fim a esta situação tal como o fizeram noutros países. Se por acaso elas não tiverem outra maneira para por um fim à crise, então que nos promovam o diálogo ou eleições antecipadas, que possam pôr um ponto final a toda a situação”, opinou nosso outro interlocutor em Bafatá.

A mesma ideia é partilhada por jovem quadro em Buba para quem “o papel das Nações Unidas em relação à crise tem sido um pouco lento”, adiantando que a organização mundial deveria adotar um carácter mais impositivo e não se limitar apenas a dizer: ‘Bem, o problema é entre vós, portanto, dialoguem. As NU devem impor, sobretudo ser um árbitro firme pela verdade, e deixar de dizer só : ‘dialoguem”.