Instabilidade governativa e alterações climáticas podem ser causa de malnutrição

5 Jun 2015

Instabilidade governativa e alterações climáticas podem ser causa de malnutrição

03 de Junho de 2015 - Reagindo à publicação do relatório sobre o Estado de Insegurança Alimentar no Mundo 2015 (SOFI), O Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas (RESG) para a Guiné-Bissau, Miguel Trovoada, afirmou quarta-feira, em Bissau, que estabilidade política é essencial para o desenvolvimento. "Numa sociedade onde haja permanente instabilidade é muito difícil promover acções que levem ao desenvolvimento e subsequentemente à redução da pobreza."

"E é fundamentalmente o sentido do mandato que as NU confiaram à esta Missão aqui na Guiné-Bissau, (UNIOGBIS), de concorrer em tudo o que possa levar a que se mantenha o clima de estabilidade e paz, e permita, de uma forma consensual, poder promover as condições de desenvolvimento económico, de progresso social e bem-estar de toda a população", acrescentou.

O relatório sobre o Estado de Insegurança Alimentar no Mundo 2015 (SOFI), lançado no dia 27 de maio, em Roma, Itália, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), detaca que existe um relacionamento íntimo entre o desenvolvimento, a estabilidade e a paz.

O SOFI diz que o número de pessoas que sofrem de fome, no mundo, baixou para 795 milhões, isto é, 216 milhões menos que em 1990-1992, ou seja, 1 em cada 9 pessoas. Nos países em desenvolvimento, lê-se no documento, a prevalência de malnutrição caiu para 12,9% da população em relação aos 23,3% registados há um quarto de século e que 72 dos 129 países em desenvolvimento alcançaram a meta dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que consistia na redução para metade a prevalência da subalimentação até 2015.

A África Ocidental foi uma das regiões que fez maiores progressos, apesar do ambiente difícil, marcado por fenómenos meteorológicos extremos, mudança climática, catástrofes, crise financeira, instabilidade política e perturbações internas, que constituem os fatores responsáveis do entrave. Contudo, a Guiné-Bissau, um dos países da região, não conseguiu fazer descer, como desejado, o número de guineenses vítimas de subnutrição, que ronda os 20 por cento da população.

O gestor e especialista de Desenvolvimento Comunitário e Secretário-Geral da Federação Camponesa KAFO, Sambu Seck, cuja organização agrupa cerca de 27 mil camponeses de 10 associações socioprofissionais, concorda que a instabilidade governativa dos últimos anos tem contribuído para o enraizamento da pobreza na Guiné-Bissau, "porque não se pode desenvolver o sector agícola sem política estável a longo prazo". Para Sambu Seck, o país "está numa situação de deficit alimentat preocupante."

"Se nos olharmos para o DENARP (documento estratégico de desenvolvimento do governo), está dito que a pobreza rural na Guiné-Bissau é geracional, com raízes profundas, que afeta quase a família inteira e põe em risco as gerações futuras", disse Sambu Seck. "Isto está ilustrado através do índice de pobreza que ronda os 60 por cento de população pobre", sublinhou Sambu Seck que isto acontece apesar das grandes potencialidades naturais da Guiné-Bissau em termos agrícolas.

Para Viriato Cassamá, coordenador do Projeto de Reforço da Resiliência da Capacidade de Adaptação do Setor Agrário e Hídrico às alterações climáticas, da Secretaria de Estado do Ambiente, as alterações climáticas também têm tido um impacto na segurança alimentar: "a campanha agrícola do ano passado não correu tão bem como se esperava por causa da irregularidade das chuvas, e alguma subida da temperatura na Guiné-Bissau. Quando um dos parâmetros varia isso tem impacto na produção agrícola, produzimos menos alimentos."

O Representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) na Guiné-Bissau, Joachim Laubhouet-Akadié, disse que para melhorar a situação de segurança alimentar na Guiné-Bissau, a sua instituição vai apoiar o Ministério da Agricultura na capacitação e preparação de uma reposta para o pré-anunciado défice alimentar no país, em colaboração e sinergia com o PAM, UNICEF, ONU-Mulheres e PNUD.

O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, João Aníbal Pereira, revelou por sua vez ao UNIOGBIS/PIU que o seu Ministério está a desenvolver políticas para a implementação de grandes programas que, a curto prazo, irão reduzir consideravelmente ou erradicar o défice de arroz e de outros cereais que o país risca de conhecer este ano.

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